Viver para mim é Cristo, embora existam diversas lacunas em nossas histórias de vida que são causadas pela falta de algo ou alguém. Sinto que essa ausência em muito afeta nossa formação de caráter, quando passamos a assumi-la como um imperativo em relação a nossa identidade. Cada um de nós saberia identificar áreas onde experimentamos esta carência e até mesmo o que foi sedimentado por ela.
Por vezes, nossas vivências nos levam a acreditar em um significado deturpado do que seria plenitude em certos aspectos de nossas vidas, nos tornando escravos a serviço de soluções que nos compensam por tudo aquilo que passamos. A partir daí, nossa compreensão de quem somos, assim como aquilo que projetamos para o futuro são também limitados pelo que conhecemos até o momento. Passamos então a lutar pela realização de coisas que, em teoria, nos satisfarão, sem ao menos termos certeza de que entendemos qual é a falta que temos.
O desejo pela eternidade.
Acredito que cada um de nós tem plantado dentro de si um desejo pelo eterno, assim como descrito em Eclesiastes 3:11:
“Também colocou no coração do homem o desejo profundo pela eternidade; contudo, o ser humano não consegue perceber completamente o que Deus realizou.”
Em diferentes momentos da minha infância eu interpretei a ausência de pessoas, recursos e até mesmo de algumas vivências, como uma falta que me tornava inferior. A verdade, porém, é que todos temos falta de Cristo. Somos marcados por lacunas causadas pelo pecado, nos tornando carentes de uma grande solução. É também por isso que não temos clareza sobre o agir de Deus em nossas vidas.
Buscando soluções eternas em planos passageiros, deixamos de experimentar o agir de Cristo em nós, o que é manifesto e refletido em nossas dificuldades, que por sua vez nos levam a idealizar objetivos rasos e destacados da fé. Para mim, isso se fez tátil através da uma constante busca por um “todo” desconhecido, que se materializaria em tudo aquilo que eu havia sentido falta quando criança.
O crescente desejo de recomeçar, de quebrar as paredes da realidade e vivenciar sem aflição, medo ou barreiras o significado de plenitude a olho nu (que não enxerga as coisas do espírito), se torna a motivação de vida para muitos de nós, gerando em nosso interior todos os tipos de males. Quando cremos que a luta é apenas nossa, que somos autores da paz que necessitamos encontrar, nos deparamos com um abismo de desilusão ao final desse trajeto. Que grande imaginação essa que se dá no coração humano, nos fazendo crer que somos criaturas tão fortes, que até mesmo em nossas aflições temos o direito de desprezar o Criador.
À medida que nos jogamos nos braços abertos de Jesus, percebemos o que Ele estava realizando à nossa volta. Passamos a conhecer a sua boa vontade, até mesmo enxergando vida onde antes havia morte. É apenas andando perto do Pai da eternidade, ouvindo sua voz e conversando com Ele que entendemos como é ser filho e filha de Deus. Nessa paternidade está também a nossa identidade eterna de pertencimento. Por isso, minha jornada pessoal de redenção está completamente ligada ao corpo de Cristo e ao meu valor e lugar no Reino de Deus, pois este é o Reino do meu Pai celestial.
Pertenço a Cristo e vivo para ele.
Pertencer é um recorte dessa história, que conta sobre a ressignificação do meu lugar passageiro nesse mundo, que aconteceu enquanto cruzava fronteiras entre países para me despedir de um pai adotivo que ganhei de Deus. Essa jornada fala sobre aqueles que me ensinaram o valor do caminho da cruz, e minha batalha contra mim mesma, a fim de aceitar o custo dessa escolha. O luto me ensinou a ponderar o amor de Deus, deixando de viver por uma eterna busca quando através dEle passei a buscar o início da vida eterna.
À medida que desfruto do meu papel dentro da obra de Deus, passo a aceitar o passado como a mera parte da falta que me foi permitida e talvez necessária, a fim de que eu encontrasse o verdadeiro Caminho. Esta é a realidade que complementa todas as lacunas em nossas vidas. Cristo é o entendimento que ressignifica nossa busca, transformando-a em descanso. Isso tudo só para sentido quando eu entendo para mim o viver é cristo.
Pertencimento e permanência são dádivas que temos à nossa disposição a partir do sacrifício de Cristo. Em uma figura perfeita, a partir de uma escolha pela fé, a Bíblia nos caracteriza como diferentes partes de um só corpo, que encontram sua funcionalidade e propósito de forma integral ao seguir as instruções da cabeça, que é Cristo. Como poderia uma parte do corpo funcionar sozinha?
Essa é a pergunta na palavra de Deus que me leva ao fim da busca pelo pertencimento. Este é o lugar onde entendo que, assim como um ramo enxertado passa a ter vida com a oliveira no momento em que se enraíza a ela, eu agora pertenço a Cristo e dependo da minha permanência nele para desfrutar da plenitude de cada fruto.
A vida com Cristo tem sido para mim a melhor carreira a ser vivida, nela o futuro já não é algo que se deve projetar a vida inteira, e sim um lugar aos pés da cruz onde deposito sonhos despreocupados, cheios de fé e esperança. Neste viver pleno do presente, o futuro se torna ao mesmo tempo um imperativo da redenção de todas as coisas, e da realização que tanto busquei até encontrar meu lugar em Cristo, afinal para mim o viver é Cristo.
Por: Aline Meyer